Foi um verdadeiro arraial de luz e côr aquele que invadiu Arrouquelas e trouxe a população até ao recinto de festas. Sem margem para dúvidas: foi como se o mar invadisse a terra para assistir bem de perto à recriação das Marchas de São Pedro e deixasse desnorteados todos aqueles que participaram neste convite à alegria. Durante momentos, foi quase assim. Quase! Não fora a ausência da carne e os receios do pão … e teria sido uma noite magnífica. Pelo menos para quem a presenciou.
Coube-nos a nós, a mais jovem associação da Freguesia, recriar, pela segunda vez, traços da memória colectiva, oferecendo a todos os que quiseram estar presentes (e que felizmente foram muitos!) uma pequena amostra do que é possível fazer com a boa vontade e a participação das pessoas.
A ideia surgiu bem cedo, no rescaldo do sucesso obtido com a actividade realizada em Setembro de 2007, e cativou um conjunto alargado de pessoas de várias idades, que aceitaram desfilar ao sabor dos velhos tempos. Os ensaios foram-se intensificando à medida das expectativas, os arcos domésticos revelaram-se verdadeiras obras de arte e dedicação, a poesia tomou conta dos manjericos e as vozes reuniram-se ao sabor dos acordes, ensaiados ao cair da noite, sem pauta e sem medo.
E porque a competição não parece mobilizar esta parte do mundo, constituir um júri competente e interessado parece ter trazido ao de cima mais as (in)diferenças que as motivações. Malhas que o futuro deverá traçar de outra forma. Sejamos sinceros: talvez tenha sido muita emoção para uma razão que a Salpiquete ainda não domina. Dai-nos tempo e vontade. Outras oportunidades virão.
Mas a história também se conta de outro modo. Tudo começou pelo fim da tarde, com o convite à partilha em torno de umas sardinhas, umas febras e algum caldo verde. Tudo que foi quase nada, tantas eram as pessoas que aceitaram a ideia.
Depois foi a festa, em princípio de noite escolhida a dedo, com a entrada dos arcos e as cantigas tradicionais temperadas pela memória. Cada arco teve o seu tempo e o seu espaço, cada par teve a sua luz e o seu encanto.
Durante algum tempo a terra estimou-se a si própria, incrédula sobre as suas reais capacidades, atordoada com os seus erros e omissões.
Terminado o desfile, houve tempo para rebentar com a boneca, como se nela estivessem os problemas e anseios da população, caixa de desejos que o fogo libertou sob o espanto dos mais novos e as recordações de todos os outros.
Também assim se aprende e ensina a viver. Em festa.
A quem ousar ler-nos até aqui, não ficará decerto esclarecido sobre o que aqui tratámos. Mas também nós nos quedamos nesse dilema: no fundo, as coisas terão a importância que nós lhe atribuímos e decerto você terá coisas mais importantes em que pensar.
Deixemo-nos ficar assim … espantados com o acontecimento, sem sabermos verdadeiramente como aconteceu.
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